Você não precisa ser bom em tudo.
Sei disso, é óbvio…
Mas, muitas vezes, saber disso não é o suficiente para mudar como você se sente e a maneira como você age, não é?
Você pode concordar com essa visão, quando pensa racionalmente, e mesmo assim, na maior parte do tempo, continuar exigindo demais de você.
E sabe? Na maioria das vezes, isso acontece de forma automática.
Você nem percebe que está se cobrando demais, alimentando expectativas irreais e se sobrecarregando por algo que não é possível alcançar.
Uma compreensão superficial não é o bastante
Esse ciclo é mantido por uma raiz mais profunda: a maneira como você pensa sobre você mesmo.
A ideia “não é possível ser bom em tudo” toca em você, mas não sedimenta.
Isso ocorre porque no fundo você ainda está tentando encontrar um caminho para burlar essa regra.
Algo como: para os outros não é possível, mas talvez para mim seja. Eu apenas não fiz o suficiente.
E então, você percorre o mesmo caminho várias e várias vezes.
Cria metas ousadas, coloca em prática o que precisa, faz avanços significativos, mas ainda assim não se sente plenamente satisfeito.
Volta ao início, reorganiza as suas metas, entra em ação, faz grandes avanços e mesmo assim ainda não se sente realizado.
Você pode continuar nesse ciclo, com a expectativa de, eventualmente, virar a exceção de alguém que se tornou bom em tudo.
Mas antes de seguir por esse caminho, responda para você mesmo: qual o motivo dessa busca?
É o que você imagina que levará a uma vida feliz?
Fará as pessoas te admirarem?
Fará você ter mais valor?
Levará os outros a te amarem mais?
Antes de continuar lendo, pare um pouco e reflita sobre a primeira pergunta, a razão que alimenta essa busca pela excelência.
Você precisa identificar quais regras estão nutrindo esse padrão na sua vida.
Talvez você tenha alguns pensamentos como:
Se eu não for o melhor, não serei tão valorizado.
Se eu não for excelente, não terei os resultados que desejo.
Se eu não me cobrar assim, então estarei desperdiçando meu potencial.
Ao tentar ser bom em tudo, estamos falando sobre a relação entre desempenho e a maneira como você enxerga a si mesmo.
Então, o que você aprendeu ao longo da sua história de vida sobre isso?
Será que na sua infância um bom desempenho estava associado a receber mais atenção de pessoas significativas? Será que dessa forma você se sentia mais visto?
Se sim, por que de outras formas você não se sentia valorizado?
Será que garantir um bom desempenho ajudou você a fugir de algo (brigas, decepções, desconfortos)?
Será que você associou um bom desempenho com ser mais digno de ser amado e respeitado?
Você teve algum modelo que passou essas mensagens?
A maneira como as pessoas interagiam com você reforçava essas ideias?
Dependendo das hipóteses que você levantou, procure avaliar o que levou a interpretar as coisas dessa forma.
Faça um esforço ativo para pensar sobre a sua história e compreender desde quando este padrão está presente, o que possivelmente influenciou no surgimento dele e porquê ele ainda se mantém.
Motivações distorcidas geram resultados inalcançáveis
Agora que você entendeu mais sobre o motivo que alimenta essa busca por ser bom em tudo na sua vida, você pode avaliar se é algo realmente possível de alcançar dessa forma.
Muitas vezes, buscamos no padrão de alto desempenho um refúgio para o medo, a rejeição, a vergonha e o fracasso. Acreditamos que uma vida livre desses sentimentos está logo ali, na próxima conquista.
Mas, quando finalmente alcançamos o que desejamos, percebemos que ainda estamos vulneráveis, não nos tornamos imunes a esses sentimentos.
E assim, quase instantaneamente, voltamos ao ciclo de fazer mais, nos esforçar mais e tentar ser melhor.
Há um momento em que diante de tanta sobrecarga, o cansaço se instala. E ao perceber que já fizemos tanto e mesmo assim não encontramos um lugar seguro, a incessante busca por um alto desempenho, em todas as áreas da vida, perde o sentido. Passamos a aceitar, então, a nossa vulnerabilidade.
A possibilidade da rejeição, vergonha ou fracasso continua presente, mas percebemos o quanto lidamos com esses sentimentos no caminho e foi possível superá-los.
Não foi algo que nos destruiu, como temíamos inicialmente.
O medo de vivenciar essas experiências era tanto que o nosso olhar se voltava para a falta. Encontrávamos conforto e segurança em buscar realizar mais.
Aceitar a nossa própria vulnerabilidade provoca uma mudança de perspectiva sutil, mas muito poderosa. Deixamos de olhar para a falta e percebemos como somos valorizados, admirados, amados e fonte de inspiração para outras pessoas.
E isso não precisa estar presente em tudo. Estando presente em alguns lugares já podemos estar seguros e de algum modo, nos convencer que somos suficientes como somos.
Para isso, precisamos apenas estar atentos a esse lado, e acolher a possibilidade de não ser valorizado, aceito e admirado por todos. E que isso não seja visto como uma confirmação de que existe uma falta em nós mesmos, mas como uma realidade que está colocada para todos.
É dessa forma que passamos a viver olhando menos para o nosso desempenho e mais para a construção de uma jornada que realmente ressoe com aquilo que existe de mais valoroso para nós.
Aceitando a sua vulnerabilidade e sendo bom o suficiente
Você nunca mais vai se sentir insuficiente se lembrar que:
O seu valor não é condicional ao seu desempenho.
Você pode ser uma boa pessoa, digna de ser amada e valorizada e não ser boa em tudo. Ou até não ter um bom desempenho o tempo todo, nem mesmo naquilo em que você é realmente bom.
(1) Comece aos poucos
Se você costuma se cobrar demais, mudar pode ser um grande desafio.
Quebrar esse padrão requer revisitar a maneira como você tem interpretado as coisas e limpar as suas lentes.
Ou seja, identificar a maneira como você pensa e como isso influencia o modo como você se comporta.
Se você acredita que precisa ser bom em tudo para ser feliz e valorizado, percebe como é difícil não agir conforme essa ideia?
Colocando de outra forma, basicamente o que você acredita é que ao exigir menos de si, você será infeliz, menos valorizado e deixará de ser amado pelas pessoas que são importantes na sua vida.
Desafiar essa ideia requer coragem, por isso, comece aos poucos.
Escolha uma situação específica em que seja mais fácil testar esses pensamentos. E então, faça o que precisa ser feito, mas com um nível menor de exigência.
Se em determinado projeto de trabalho você está acostumado a ler cinco artigos sobre o tema, se preparar durante seis horas e revisar três vezes o que foi feito, teste fazer menos. Leia dois ou três artigos, se prepare durante duas ou três horas e revise apenas uma vez.
Se você evita começar coisas novas, pelo desconforto em ser iniciante, escolha uma coisa que você sente vontade em fazer e comece.
Em vez de colocar o foco no seu desempenho, observe o que essa nova experiência agrega para a sua vida. Se você sentiu vontade de iniciar, provavelmente existe algo importante relacionado. Talvez seja para cuidar da sua saúde, conhecer novas pessoas ou descobrir novos hobbies.
Agora, a parte mais importante: depois dessas experiências, avalie os resultados.
Você passou a ser menos valorizado, amado ou feliz ao pegar mais leve com você?
Como você se sentiu ao exigir um pouco menos de si nessas situações?
Será preciso fazer experimentos como esse algumas vezes e durante um tempo para que você possa testar a sua forma de pensar e construir uma forma mais flexível de se relacionar com você mesmo.
(2) Observe outras pessoas
A comparação, quando nutre um sentimento de falta, reforça ainda mais a sensação de não ser o suficiente e, consequentemente, o padrão de exigir demais de você.
Agora, a comparação que considera os pontos positivos e as vulnerabilidades daqueles que te inspiram, pode ser benéfica.
Procurar perceber as falhas das pessoas que você admira não significa invalidar o que elas representam. Na verdade, é uma maneira de torná-las mais humanas. Assim, você vê que tem algo em comum com elas: não são perfeitas e, muito menos, boas em tudo.
É alguém que decidiu se dedicar a uma área específica e trabalhou até alcançar a excelência. Porém, para isso, escolheu outras áreas em que aceitaria ser ruim ou até não saber nada.
Tornar os seus ídolos mais humanos, percebendo suas falhas e vulnerabilidades, diminui a distância entre vocês e, dessa forma, alivia a sua sensação de não ser suficiente.
Outro ponto importante é observar outras pessoas para entender o seu momento.
Talvez você gostaria de estar fazendo mais, o que pode reforçar a sensação de não se sentir suficiente. Mas será que você está em condições de fazer mais?
Ou existe algo mais a ser feito?
Talvez a sua tendência seja responder sim para essas duas perguntas. Contudo, não responda no automático, pense um pouco.
Sempre é possível fazer mais, porém, a qual preço?
Do que você estaria abrindo mão?
O nosso tempo é finito, se desejamos fazer mais, consequentemente algo irá perder lugar. Tem momentos que sem querer acabamos abrindo espaço para coisas que não são tão importantes, circunstâncias que não nos aproximam da vida que desejamos construir.
Agora, há fases da vida em que nos dedicamos mais a certas situações alinhadas com o que queremos para o presente ou futuro, mas que concorrem com outras áreas igualmente importantes.
Pense em um casal que acabou de ter o primeiro filho. O tempo dedicado ao trabalho, estudos, amigos, atividade física, hobbies e outras áreas da vida, sofrerá impactos significativos. O ponto é saber escolher o que, neste momento, requer mais atenção, aceitando que outras coisas ficarão em segundo plano.
Identifique o que é mais importante em cada fase da sua vida para evitar o peso das escolhas e o desperdício de tempo com o que não te aproxima do que deseja.
E sobre a sensação constante de haver algo a mais que poderia estar sendo feito, cuidado. Muitas vezes, essa percepção é apenas uma dificuldade em aceitar o ritmo do seu próprio processo.
Ser bom em algo envolve a combinação de duas coisas: dedicação e esforço nas coisas certas e tempo.
Nada do que é realmente bom é construído da noite para o dia.
(3) Lembre o que é importante para você
É mais fácil aceitar não ser bom em tudo quando você sabe que está investindo no que realmente importa.
O que é importante para você na vida?
Qual tipo de pessoa que você deseja ser?
Como você imagina a sua vida daqui a 10 anos? E em 20 anos?
Quais são as 4 ou 5 coisas que irão levar você a viver essa realidade no futuro?
São esses os pontos que você precisa identificar e não perder de vista.
Em meio a tantas possibilidades, foque no que você precisa se tornar bom para se aproximar do seu futuro ideal. O resto é apenas ruído.
Cultivar uma visão de longo prazo é o que garante que você estará fazendo as melhores escolhas para a sua vida.
(4) O exercício da gratidão como um ajuste de filtro positivo
Ao longo da nossa conversa, você pode ter sentido um alívio na sua autocobrança e uma melhora no seu humor, o que pode ter levado você a questionar se existe alguma maneira de influenciar a sua mente a pensar de forma mais positiva.
Acrescentar mais gratidão ao seu dia a dia pode ser esse caminho.
Exercitar a gratidão não significa ignorar as coisas negativas ou deixar de desejar alcançar mais. Mas é uma maneira de reconhecer e assimilar seus avanços, permitindo-se vivenciar suas conquistas. Isso abre espaço para perceber o positivo e diminui o foco na sensação de falta, que alimenta o sentimento de não ser o suficiente.
Quando cultivamos a mentalidade de valorizar nossas conquistas, grandes e pequenas, desenvolvemos um olhar mais positivo sobre nossa vida atual e aumentamos nossa autoeficácia – percepção de nossa capacidade de alcançar e realizar coisas
Você pode desenvolver uma prática regular de gratidão de diversas formas. Em geral, gosto de manter uma abordagem prática, vejo que assim é mais fácil iniciarmos e mantermos novos hábitos.
Então, a sugestão que eu te dou é manter um diário de gratidão no seu bloco de notas do celular. Todos os dias, após o jantar, reserve cinco minutos e concentre a sua atenção em coisas pelas quais você é grato. Podem ser coisas pequenas como ter finalizado um bom livro, o calor do sol ao longo do dia, ter encontrado um novo hobbie, ou ter alguém para auxiliar na organização da casa. Ou, ainda, coisas maiores, como ser grato pelo lugar em que você mora, sentir a admiração de pessoas significativas, ou perceber que o que antes era um desafio para você realizar hoje em dia tem sido fácil.
Se este exercício for útil para você, você pode manter o hábito da gratidão como uma prática regular pelo resto da sua vida. No início, comece de forma mais estruturada, mas, com o tempo, ajuste conforme fizer mais sentido, para garantir que seja possível manter a longo prazo e continuar se beneficiando dos resultados desse hábito.
Obrigada por ter lido.
E fique à vontade para responder esse e-mail me contanto como foi para você a conversa de hoje.
Até a próxima semana.
Ana