Ana Beatriz Weller Psicóloga

O peso de sentir que você nunca é bom o suficiente

Você já parou para pensar o quanto duvida de si mesmo?

O quanto constantemente você se coloca para baixo, adia certos planos ou desiste de certas coisas por achar que não é bom o bastante?

Todos temos essas vozes internas negativas. Mas ninguém nasce pensando dessa forma.

Essa voz começa externa.

Ao longo das suas experiências, das informações às quais você foi exposto e do que ouviu de professores, amigos ou familiares, essa voz interna crítica foi se formando.

É um discurso que começa fora e gradativamente se torna parte de você.

Conviver com esse discurso adiciona um peso desnecessário à sua vida.

Você tem todas essas ideias sobre o que gostaria de ser capaz de fazer, mas esse discurso age como uma bola de ferro no seu pé, atrasando seu desenvolvimento – isso na melhor das hipóteses, pois existe a possibilidade de você nem conseguir caminhar.

E você está perdendo tempo. Quanto mais você convive com esse pensamento, mais ele se fortalece.

Você tem apenas uma opção para mudar.

Ao invés de tentar esconder no seu subconsciente, você precisa olhar.

Vai ser dolorido, mas você precisa olhar para essa voz interna negativa.

Você precisa entender o que tem reforçado esse discurso e, principalmente, qual rumo sua vida vai tomar se você continuar carregando essa ideia.

O medo de falhar

Olhar para essa voz negativa que te acompanha não é fácil. Ela age como um mecanismo de proteção para que você evite se sentir vulnerável.

Mas, na prática, a vulnerabilidade está presente o tempo todo — em pequenas interações, desafios do dia a dia, em tudo que envolve se expor de alguma forma. E é justamente nesses momentos que essa voz ganha força, fazendo você duvidar de si mesmo e questionar se é bom o suficiente.

Para continuar, você precisa se expor e se permitir sentir — ainda que o instinto seja o oposto. Fugir do desconforto é tão normal que, por vezes, você nem percebe como isso pode estar limitando sua vida e seus projetos.

Brené Brown, em seus estudos, identificou como a vulnerabilidade é o que está por trás dos medos e vergonhas e da luta por sentir que você é o suficiente.

Existem pessoas que, ao perceberem que precisam aceitar suas vulnerabilidades para se sentirem o bastante, caminham para isso. Outras tentam resistir, fazendo de tudo para eliminar o que é incerto e o que ativa as dúvidas sobre ser bom o suficiente. Tentam, basicamente, apagar qualquer coisa que possa despertar o desconforto de se sentirem expostas.

Acontece que não dá para adormecer apenas o que consideramos ruim – aquilo que ativa nossa vulnerabilidade. Ao tentar fazer isso, adormecemos tudo, a parte boa junto.

Falamos na última edição sobre o modelo de cinco partes. No caso do discurso de não ser bom o suficiente, essas partes se alimentam mutuamente, criando um ciclo vicioso que torna cada vez mais difícil sair desse lugar. As ideias negativas que você repete para si mesmo afetam seu ambiente, suas reações emocionais e físicas, e, por fim, suas ações, criando um ciclo que reforça a sensação de insuficiência.

Como desafiar sua voz interna crítica (assuma o controle)

A relação com esse discurso negativo é complexa. Você tem medo de olhar para ele pelo peso que adiciona à sua vida. Em alguns casos, evitar olhar para isso pode até dar a sensação de que esse discurso se torna menos verdadeiro.

Outro motivo para evitar esse olhar é a falta de compreensão sobre por que você acredita nessa ideia. Em certos momentos, você sente que esse discurso não faz sentido, mas, ainda assim, ele continua presente e enraizado, e isso é frustrante. Faz você se sentir impotente diante dele.

Talvez o que aconteça seja que, assim como você evita olhar para não sentir, tenta modificar as coisas rápido para, novamente, evitar sentir.

O processo de internalização dessas vozes leva anos, e o processo de modificá-las também levará um tempo.

Para trabalhar seu discurso interno negativo, é preciso aceitar sua vulnerabilidade. É preciso se permitir sentir. Você precisa tirar essa caixa escondida em alguma parte escura do seu subconsciente e olhar o que esse discurso realmente significa para você, como ele faz você se sentir e como ele influencia suas ações.

Só assim você conseguirá trabalhar para modificá-lo.

A ideia de não ser o suficiente tem como fundamento uma falta – algo que você sente que precisa preencher.

O mais desafiador é que você não tem clareza sobre o que precisa ser preenchido. E, justamente por isso, começa um ciclo de tentativas desesperadas para encontrar uma solução que remova essa falta.

Então, para trabalhar essa crença, você precisa começar sendo específico: o que reforça essa sensação de que algo está faltando?

(1) Comparação

A comparação geralmente acompanha pensamentos como: “os outros são melhores do que eu”, “todos parecem felizes, menos eu”. Diante disso, você adota uma régua externa para medir seu valor.

O desafio, especialmente nos dias atuais, está nas redes sociais — principalmente em conteúdos de autodesenvolvimento — e nas estratégias de marketing, que reforçam ainda mais essa ideia de que existe algo em falta em você, algo que precisa ser melhorado.

Como gerenciar a comparação:

Se essa é a principal fonte que reforça e mantém sua insegurança, você pode fazer alguns ajustes no seu ambiente. Regule seu tempo no celular e selecione melhor o que consome. Além disso, tenha consciência do efeito que o marketing tem sobre você.

Perceba quais pessoas ou conteúdos ativam esse pensamento. Talvez você não tenha tanta facilidade em notar seus pensamentos, mas com certeza percebe o aumento da ansiedade, do desânimo e da irritação depois de um tempo no celular. Quando isso acontecer, pare e se pergunte:

  • Quais conteúdos podem ter influenciado esse mal-estar?
  • Quais pensamentos eu tive diante deles?
  • O que fizeram eu pensar sobre mim?

Tenha claro que conteúdos de autodesenvolvimento e certas estratégias de marketing são criados para gerar em você a sensação de que algo está faltando. Isso não significa que há algo errado com você. Todos temos coisas a melhorar.

O importante é separar a busca por crescimento do seu valor enquanto pessoa. Tenha clareza dos seus valores – eles irão ajudá-lo a direcionar sua jornada, separando o ruído da comparação daquilo que realmente importa para você.

(2) Perfeccionismo

O perfeccionismo pode aparecer de maneira evidente, com pensamentos como: “não sou perfeito”, “não posso errar”, “preciso ser melhor”. Mas também pode surgir de maneira sutil, em pensamentos como: “os outros conseguem, por que eu não?”, “eu já deveria saber isso”, “eu deveria conseguir fazer isso”.

O perfeccionismo adiciona um peso extra às suas ações, aumenta a insatisfação consigo mesmo e reforça a ideia de não ser bom o suficiente. Esses pensamentos fazem você acreditar que está falhando como pessoa. Mas isso é apenas uma crença, não uma realidade.

Como gerenciar o perfeccionismo:

O maior erro aqui é a régua que você usa para se avaliar. Cada vez que se aproxima do seu ideal, sua régua se ajusta, tornando o padrão inalcançável.

Para enfraquecer esse sistema, você precisa aumentar sua capacidade de estar vulnerável e se sentir bem com isso. Aceitar que errar faz parte do crescimento e que você não precisa ser perfeito para ter valor.

Olhe para sua experiência até aqui: apesar dos erros que cometeu e das dificuldades que enfrentou, as pessoas que são importantes para você continuaram ao seu lado? Continuaram valorizando quem você é e suas habilidades? Continuaram falando coisas boas sobre você?

As pessoas que realmente importam e agregam valor à sua vida ficam pelo que você é, não pelo seu desempenho. Lembre-se disso.

(3) Foco em resultados

O foco excessivo em resultados leva a pensamentos como: “ainda não alcancei meus objetivos”, “não sou bom o suficiente porque ainda não consigo fazer isso”. Isso faz com que você acredite que não é bom o suficiente simplesmente por estar no meio do processo.

Seria como dizer que um avião não é bom o suficiente porque ainda está voando para o seu destino. Não há nada de errado com ele, ele apenas está no meio da jornada.

Como ajustar seu foco:

Se existem pessoas que estão onde você deseja estar um dia, é porque elas sabem coisas que você ainda não sabe ou estão nesse processo há mais tempo. Só isso.

Você está aprendendo e crescendo com o processo. Em vez de pensar apenas no resultado que deseja, pergunte-se:

  • Estou fazendo o que está ao meu alcance hoje?
  • Tem algo a mais que eu poderia estar fazendo?
  • Tem algo diferente que eu poderia experimentar?
  • Estou satisfeito com minha rotina como ela está?

Foque em vivenciar o processo, não apenas no resultado final. Só é possível atingir o resultado se você conseguir sustentar o processo.

(4) Necessidade de validação

A necessidade de validação externa acompanha pensamentos como: “nem todo mundo gosta de mim”, “o meu jeito não agrada a todos”.

Todos buscam ser aceitos. Conviver bem em grupo é uma necessidade básica do ser humano. Mas, quando essa necessidade de validação aumenta sua insegurança, faz com que você mude seu jeito contra sua vontade e reforça a crença de não ser suficiente aos olhos dos outros, é preciso intervir.

É impossível conseguir a aprovação de todos.

Você não gosta de todas as pessoas ao seu redor, então por que o contrário precisaria ser verdadeiro?

Como gerenciar a busca por validação:

“Ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento”

Eleanor Roosevelt

Não são os outros que fazem você se sentir insuficiente, mas você mesmo.

  • Quem você está tentando agradar?
  • Qual aprovação está buscando?
  • Por que isso é tão importante para você?

Responder a essas perguntas ajudará a entender como parar de deixar os outros influenciarem seu senso de valor.

Aqui, novamente, estamos falando sobre aceitar sua vulnerabilidade. Acolher que existe um lado seu que agrada e um lado que não será tão agradável assim. E isso não significa que há algo errado com você ou algo que precise ser mudado.

Para não esquecer

A ideia de não ser o suficiente tem como fundamento uma falta — algo que você sente que precisa preencher.

Você precisa entender o que alimenta essa sensação para parar de reforçar ainda mais essa crença.

O aspecto central para diminuir a força da crença de não ser bom o suficiente é aceitar sua vulnerabilidade.

É perceber que, ao mesmo tempo que existem coisas que podem ser melhoradas, nada precisa ser melhorado.

É aceitar quem você é por inteiro. Acolher aquela parte que você considera feia e, por isso, tenta esconder, reconhecendo que ela também faz parte de você – e que, em hipótese alguma, diminui o seu valor.

Pratique aceitar a sua vulnerabilidade, agir de acordo com os seus valores e aprender um pouco a cada dia.

E pergunte a si mesmo:

O que você estaria fazendo diferente se acreditasse que é suficiente?

A resposta para essa pergunta é o norte para modificar sua forma de pensar e agir daqui para frente.

Obrigada por ter lido. Até a próxima semana!

Ana

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