Com frequência, investimos tempo e energia tentando controlar o que não está ao nosso alcance.
Você provavelmente já tentou controlar coisas como:
- O que os outros pensam e fazem.
- As consequência das suas escolhas.
- Eventos inesperados.
- Os resultados dos seus esforços.
- O passado.
- O tempo das coisas.
Quando colocamos o foco no que não está ao nosso alcance, acabamos tornando as coisas piores e mais difíceis do que precisariam ser.
Tentar controlar o incontrolável leva, inevitavelmente, à frustração. Diante disso, é comum aparecerem pensamentos como:
“As coisas sempre dão errado para mim”
“As pessoas são incompreensivas”
“É injusto que seja assim”
“Deveria ser diferente”
“Ele/ela não deveria pensar ou agir assim”
“Não tem nada que eu possa fazer”
Esses pensamentos, por si só, não são o problema. O que faz diferença é o quanto você acredita neles e a tendência de reagir a eles.
Quais as consequências de pensar dessa forma?
Ao pensar assim, você provavelmente se sente desanimado, desamparado, irritado ou mais ansioso.
E, ao se sentir assim, pode acabar investindo ainda mais esforços para tentar controlar o que não está ao seu alcance – afinal, ninguém quer se sentir desconfortável.
Mas, se algo está fora do seu controle, não há nada que possa ser feito. E, mais uma vez, você irá falhar e se sentir frustrado, o que reforça ainda mais as ideias iniciais.
E quanto mais esse ciclo se repete, mais forte ele fica.
Não é algo que você faz conscientemente, mas esse ciclo acaba tornando as coisas mais difíceis para você.
Se você quer se sentir mais feliz no presente, melhorar seus relacionamentos e enxergar o futuro com mais otimismo, precisa aprender a romper esse padrão.
A dicotomia do controle
Você não controla 99% das coisas que vão acontecer com você, mas controla como reage a elas.
Distinguir o que se pode controlar do que não se pode é a ideia central da dicotomia do controle.
Perceber que não temos controle sobre o que é externo pode gerar mal-estar e ansiedade. Contudo, existe um ponto que está sempre em nosso controle e pode modificar o equilíbrio dessa relação: como reagimos ao que acontece.
Como você reage aos eventos é o que realmente importa, e não os eventos em si.
Você não pode controlar o que os outros irão pensar ou falar de você, mas pode controlar como isso vai te afetar.
Você não controla as consequências das suas decisões, mas pode controlar como irá lidar com essas consequências.
Você não controla o resultado dos seus esforços, mas pode controlar se vale a pena desistir ou continuar tentando.
Você não controla as atitudes das pessoas ao seu redor, mas pode controlar o seu próprio comportamento.
Você não controla o passado, mas pode escolher aceitar o que já ocorreu ou continuar sofrendo por algo que não pode ser mudado.
No dia a dia, diversas situações irão nos testar. Não podemos deixar de sentir, teremos reações emocionais automáticas. Contudo, posso me permitir sentir por um tempo e deixar ir embora. Ou posso me prender a essas reações e intensificar o meu próprio sofrimento.
Lembre: não são as situações em si, mas como reagimos a elas.
Diferenciar o que está ao nosso alcance e o que não está, para que possamos focar na coisa certa, é usar da razão para lidar com as imprevisibilidades da vida.
É uma forma de navegar pela incerteza com mais sabedoria e maturidade.
Preste atenção ao papel do julgamento
É natural do ser humano buscar previsibilidade e controle.
Para garantir nosso bem-estar, tendemos a prever possíveis ameaças.
Se eu consigo prever, consigo tentar evitar que esse cenário aconteça. E, quando não posso evitar, ao menos consigo me preparar para lidar com ele.
Essa capacidade de antecipação traz benefícios, mas existe uma linha tênue entre usá-la a nosso favor e acabar aumentando o próprio sofrimento.
“Sofremos com mais frequência na imaginação do que na realidade”.
– Sêneca
Você aumenta seu próprio sofrimento quando busca um alto nível de certeza sobre o que vai acontecer.
Podemos pensar, planejar, revisar o planejamento, mas, no fim, sempre será necessário tolerar a dúvida.
Para agir, precisamos confiar que as coisas darão certo – ou que seremos capazes de lidar com o desfecho negativo.
Quanto menor sua capacidade de tolerar incertezas, mais você sofrerá neste processo.
Tolerar a dúvida está no centro do comportamento de tentar controlar o que foge do seu alcance. Você faz esse movimento para aumentar a previsibilidade sobre o desfecho de determinada situação e, com isso, se sentir mais seguro.
Mas a incerteza e o que está fora do seu controle não são, necessariamente, ruins.
São apenas fatos: existem coisas que podemos prever e controlar, e outras que não. O problema surge quando sua interpretação dessas situações gera sofrimento desnecessário.
Por isso, o segredo para sofrer menos está em redirecionar a sua energia:
- Foque no que você pode controlar
- Aceite o que não depende de você
- Trabalhe para mudar a forma como você interpreta e reage à incerteza.
Treinando seu olhar
O seu copo está meio cheio ou meio vazio?
Como falamos há pouco, o que não está no seu controle, não é, necessariamente, ruim. Tudo depende da maneira como você percebe essa realidade.
Você pode lutar contra isso e alimentar ainda mais uma perspectiva negativa. Ou pode aprender a redirecionar seu foco para o que está ao seu alcance.
Não é uma mudança simples, mas você aprende e fortalece essa habilidade com a prática diária.
E a boa notícia? Em um dia, existem infinitas possibilidades para treinar esse novo olhar. E, conforme você notar as consequências positivas dessa mudança, mais fácil será mantê-la.
Passo 1: Reconheça suas tentativas de controle
Um bom ponto de partida é perceber em quais situações você mais sofre tentando controlar o incontrolável.
Pense sobre o seu dia a dia: quais situações geralmente aumentam sua ansiedade, desânimo ou mal-estar?
Quais pensamentos costumam estar presentes nesses momentos?
Preocupação com os outros: Você teme julgamentos? Se preocupa com o que os outros podem dizer ou fazer? Fica irritado com o comportamento de alguém?
Se sim, talvez você esteja tentando controlar as opiniões e ações das pessoas.
Medo do futuro: Você se pega avaliando desfechos negativos? Tentando prever imprevistos? Angustiado com as consequências das suas escolhas?
Se sim, pode ser que esteja tentando controlar eventos incertos e futuros.
Impaciência com o tempo: Você sente que as coisas deveriam acontecer de outra forma? Acha injusto não ter os resultados que gostaria? Gostaria que tudo mudasse logo?
Se sim, talvez esteja tentando controlar o ritmo dos acontecimentos.
Fixação no passado: Você revisita situações e gostaria de ter reagido de outra forma? Se sente injustiçado pelo que já viveu? Gostaria de mudar algo que aconteceu?
Se sim, pode estar tentando controlar o passado – algo que, por definição, já passou.
Talvez você tenha se identificado com apenas uma dessas categorias. Talvez com várias.
Essa divisão serve apenas para ajudar você a perceber o que, normalmente, busca controlar sem sucesso.
Passo 2: Trabalhe sua flexibilidade
Se você já brincou com uma armadilha de dedo chinesa, sabe que o instinto é puxar os dedos para se soltar – mas isso só faz a armadilha apertar ainda mais. A solução menos óbvia para escapar é aproximá-los, em vez de afastá-los.
Quando lidamos com o desconforto, algo semelhante acontece.
O instinto é tentar controlar o que nos causa sofrimento – parece a solução mais óbvia. Mas, muitas vezes, acabamos tentando controlar o que não está ao nosso alcance. O resultado? Mais frustração e angústia.
O segredo é mudar o foco: perceber o que está ao nosso alcance. E reforçar isso para nós mesmos, quantas vezes for necessário, até que se torne natural interpretar as situações sob essa perspectiva.
Ser flexível desbloqueia sua criatividade, permitindo enxergar um mesmo evento por diferentes ângulos. Mas só flexibilidade não basta.
Passo 3: Compreenda o papel da aceitação
Não temos responsabilidade por aquilo que acontece conosco, mas temos responsabilidade sobre como vamos lidar com aquilo que ocorre.
Às vezes, conseguimos enxergar com clareza o que está e o que não está sob nosso controle. Mas nem sempre é fácil lidar com a frustração de querer mudar algo e precisar se contentar com o que está ao nosso alcance.
Nesse cenário, além da flexibilidade, também precisamos da aceitação.
Aceitar não significa concordar, se resignar ou deixar de sentir incômodo com a situação. Significa apenas reconhecer a realidade como ela é, sem tentar mudá-la ou resistir a ela.
Isso evita que você piore as coisas para si mesmo.
A aceitação permite seguir em frente. É como colocar um ponto final em algo que você gostaria que tivesse sido diferente, mas entende que não pode mudar. Agora, o que está sob seu controle é decidir o quanto isso continuará afetando suas escolhas e sua vida daqui para frente.
Bônus: Fortaleça sua autoconfiança
Uma das razões pelas quais buscamos controle está na necessidade de nos sentirmos seguros. E uma maneira fácil — mas ineficaz — de buscar essa segurança é tentar prever e controlar tudo, na esperança de evitar que algo ruim aconteça.
No fundo, essa necessidade vem do medo de não conseguirmos lidar com imprevistos ou dificuldades. Se não me sinto seguro para enfrentar o que me preocupa, faz sentido que eu tente impedir que aconteça.
O problema é que temos pouquíssimo controle sobre o que é externo a nós. Na verdade, talvez não controlemos nada do que está fora de nós.
Percebe como é uma estratégia falha tentar encontrar segurança aumentando o controle e a previsibilidade das coisas?
Quanto mais você tenta impedir que algo saia do seu controle, mais percebe que essa tarefa é impossível – e mais desconfortável fica.
Em vez disso, fortalecer a confiança de que você saberá lidar com as situações quando algo sair do planejado é um caminho muito mais eficaz para manter seu bem-estar.
Vale a pena modificar o seu olhar diante da vida – mesmo que isso exija esforço no início.
Tentar controlar o que foge ao seu alcance apenas aumenta a ansiedade, as preocupações e a insatisfação com a vida. Além disso, lutar contra o incontrolável pode gerar ainda mais sofrimento.
Por outro lado, aprender a focar no que está ao seu alcance e aceitar o que não está contribui para o seu bem-estar, fortalece sua tolerância às incertezas da vida e reduz a ansiedade. Com o tempo, essa mudança de perspectiva também aumenta sua satisfação com a vida.
No fim das contas, focar no que podemos controlar nos liberta para viver melhor.
Obrigada por ter lido. Espero ter contribuído.
Até a próxima semana!
Ana